“Surpreendi-me. Não é que abusava de minha boa vontade? Por que mantinha ele um ar de tão denso mistério? Podia contar seus segredos sem receio de qualquer julgamento. Meu estado de embriaguez me inclinava especialmente à benevolência e além disso, afinal, ele não passava de um estranho qualquer… Por que não falava ele de sua vida com a objetividade com que pedira o copo de chopp ao garçom?
Recusava-me a conceder-lhe o direito de ter uma alma própria, cheia de preconceitos e de amor por si mesmo. Um destroço daqueles, com a inteligência suficiente para saber que era um destroço, não deveria ter claros e escuros, como eu, que podia contar minha vida desde o tempo em que meus avós ainda não se conheciam. Eu possuía o direito de ter pudor e de não me revelar. Era consciente, sabia que ria, que sofria, lera obras sobre o budismo, fariam um epitáfio sobre meu túmulo quando morresse. E embebedava-me não puramente, mas com um objetivo: Eu era alguém.”
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LISPECTOR, Clarice. A bela e a fera.
Mais dois bêbados
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Profundo hein …
A MULHER TINHA UMA CLASSE ,HEIN?
Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil.
Leon Tolstoi
PARABÉNS MULHER!
Que bárbaro eu me vi neste texto exatamente agora! rsrsrsrs
Abraços, Lia.
Camila
“Por que não falava ele de sua vida com a objetividade com que pedira o copo de chopp ao garçom?”. Show. Sinceridade e objetividade.
Afinal, mulheres gostam disso, não.
…
Como os textos de Clarice Lispector: ótimos. Gosto muito de seu jeito de descrever. Descreve algo simples, mas cheio de detalhes. Comum, mas diferente.
Abraço do Búfalo
http://naoserouser.wordpress.com/
Tem mais um selo pra você.
Abraço do Búfalo
http://naoserouser.wordpress.com/
Onde está vc criatura?
bjs
creio que me lembro desse.
e gosto muito, muito dela.
bjos